Força Bruta ou Brutal Force é um dos métodos mais antigos de hackerismo. Ele funciona a partir do processo repetitivo de tentativa e erro do usuário/senha até o sucesso na invasão de um sistema. O ataque é facilitado se o hacker possuir o nickname ou o e-mail de acesso do alvo. Esse processo é otimizado contemporaneamente através do uso de algoritmos que realizam milhares de combinações para obter sucesso na tentativa de acesso.
Ainda que a técnica utilizada no ataque ao grupo do Facebook Mulheres contra Bolsonaro tenha sido a clonagem do chip telefônico, a estratégia de força bruta é representativa das relações de disputas públicas atuais, no qual um grupo de mulheres com grande adesão sofra abruptamente um ataque com vistas à desmobilização.
O ataque ao grupo traz à cena uma disputa técnica que ocorre abaixo da superfície dos embates de projetos, discursos e narrativas comuns na corrida eleitoral. Esse confronto é demarcado na arena virtual, por meio de operações técnicas algorítmicas travadas pelos diferentes grupos políticos.
A mobilização desses saberes técnicos na corrida eleitoral, já possui um histórico e pode ser observada no uso do Spear phishing¹, empregado nas eleições presidenciais americanas para roubar informações trocadas por e-mail pela equipe de Hillary Clinton. Trata-se de um modo de invasão mais sofisticado, pois opera com o consentimento da própria vítima, que fornece suas informações ao invasor.
O FBI define a ação de “phishing” como o “ato de enviar um e-mail se fazendo passar falsamente por um legítimo e estabelecido negócio em uma tentativa de enganar o destinatário desprevenido para que divulgue informações pessoais”. Entre esses dados podem estar senhas, números de cartões de crédito e contas bancárias. (EXAME, 2018)
O entrelaçamento entre a política e uma rede técnico-virtual no Brasil gera uma eleição tipicamente marcada pelo uso das redes sociais, da atuação de Bots³ (algoritmos gerados para automatização de tarefas normalmente repetitivas, utilizados nas eleições como modo de propagação de postagens de apoio, notícias falsas etc.), e da presença de redes de perfis falsos² operando com objetivo de manipular a opinião pública acerca de algum candidato.
Há, por um lado, a consolidação das mídias sociais como espaços de mobilização coletiva e disputa de narrativas, de modo que já não podemos pensar um processo de grande monta como as eleições dissociado do que ocorre nas redes. É necessário considerar também a dimensão técnica subjacente às relações produzidas nesses espaços.
Sob cada curtida, reação e compartilhamento, perfil e diretrizes de grupos, há uma extensa cadeia de algoritmos na qual tais informações são organizadas e direcionadas, numa linguagem específica que pode ser e, como visto, será cada vez mais mobilizada. Essa grande estrutura é apresentada como espaço aberto para livre manifestação e liberdade de novas proposições. No entanto, esse cenário encontra-se apenas na superfície do “o que você está pensando?” das interações conduzidas pelos algoritmos presentes nas redes sociais.
Abaixo da narrativa da internet livre há saberes altamente especializados que estruturam, restringem e governam a rede, sendo acessados por um grupo particular composto por corporações, técnicos, usuários avançados e especialistas. A força bruta derruba a ideia da mídia social segura e num instante podemos ver, através dela, um conjunto de usos técnicos da rede, recursos políticos que aguardam ser utilizados. A disputa política passa hoje por um processo de transformação no qual outros mediadores não tradicionais à sua esfera vêm à tona, configurando novas práticas e representações.
Referência de noticias
¹https://exame.abril.com.br/mundo/spear-phishing-tecnica-deu-a-hackers-dados-sobre-a-campanha-de-hillary/
²https://www.bbc.com/portuguese/brasil-42172146
³https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/07/robos-sao-64-dos-seguidores-de-alvaro-dias.shtml